terça-feira, 18 de dezembro de 2012
3.1 Potencial dos principais elementos do filme que pode ser
explorado visualmente.
O quadro abaixo refere às partes do filme que podem ser exploradas visualmente e seus respectivos elementos componentes da imagem. Tais partes são os créditos iniciais e finais24 e o corpo do filme. Através de texto e figura, na parte dos créditos há a possibilidade de: apresentar os personagens descriminando seus respectivos intérpretes; fazer uma introdução dos personagens e da ambientação; encerrar destacando erros de gravação ou revelando os atores que interpretaram os papéis principais etc. Quanto ao corpo do filme, que abrange a narrativa da história, os elementos a serem concebidos para compor o seu visual é que exigem especial atenção durante o planejamento, observando-se suas características gerais e específicas.
O quadro abaixo refere às partes do filme que podem ser exploradas visualmente e seus respectivos elementos componentes da imagem. Tais partes são os créditos iniciais e finais24 e o corpo do filme. Através de texto e figura, na parte dos créditos há a possibilidade de: apresentar os personagens descriminando seus respectivos intérpretes; fazer uma introdução dos personagens e da ambientação; encerrar destacando erros de gravação ou revelando os atores que interpretaram os papéis principais etc. Quanto ao corpo do filme, que abrange a narrativa da história, os elementos a serem concebidos para compor o seu visual é que exigem especial atenção durante o planejamento, observando-se suas características gerais e específicas.
24 Alguns filmes optam por ter seus créditos exibidos apenas no final.
*Nas produções em live-action há um departamento exclusivo para
cuidar da criação e confecção do figurino. Nas produções que envolvem a
criação de personagens sintéticos raramente se cria o figurino dissociado
do personagem.
Para a realização do Design Cinematográfico, o Design de Produção e a Direção de Arte, que são cargos de direção do Departamento de Arte, estão encarregadas de gerenciar os seguintes recursos:
• Design de créditos, iniciais e finais;
• Através do Design de conceito são confeccionados o storyboard e o
design de: personagens, figurinos, cenários e objetos de cena.
Para a realização do Design Cinematográfico, o Design de Produção e a Direção de Arte, que são cargos de direção do Departamento de Arte, estão encarregadas de gerenciar os seguintes recursos:
• Design de créditos, iniciais e finais;
• Através do Design de conceito são confeccionados o storyboard e o
design de: personagens, figurinos, cenários e objetos de cena.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
3
Design Cinematográfico: considerações gerais
Para filmes de longa-metragem / ficção
Na intenção de explicitar o ponto de vista do qual o tema está sendo
abordado, traçamos um paralelo entre as formas de design industrial19 mais
comuns e de design cinematográfico praticado pelos departamentos de arte no
cinema de um modo geral.
Obtemos, então o seguinte quadro:
A palavra design, no caso da distinção descrita no quadro acima, pede
um complemento que defina seu objetivo final. Cada tipo de design, seja ele
industrial ou cinematográfico, possui objetivos distintos, peculiares à área em
que atuam. Sendo assim da mesma forma que temos no design industrial o
design gráfico, o design de produto, o design de moda, o design de interiores e
19 Desenho Industrial - [1] Ciência e arte que abrange o projeto e o desenvolvimento de
embalagens com ênfase nas suas características estéticas, práticas, funcionais etc., incluindo a escolha dos
materiais e meios de produção. [2] Atividade técnica ou artística que se ocupa da
concepção da forma de objetos tridimensionais (desenho de produto) e bidimensionais (programação
visual) com vistas na produção industrial. ROSSI FILHO, 2001.
de edificações etc, teremos também no design cinematográfico o design de
créditos, a arte gráfica de cena, o design de objetos de cena, o design de
figurino, o design de cenários etc. No cinema, a junção destes elementos faz
com que conceito literário e resultado fílmico auxiliem a construção da narrativa
através de imagens.
No decorrer dessa pesquisa, o emprego da palavra design estará se
referindo a projeto, planejamento num sentido mais amplo. A palavra desenho,
quando num contexto geral, estará se referindo às representações gráficas e
plásticas (grafite, lápis, aquarela, pintura a óleo, pintura digital, acrílica, etc).
Num contexto específico, desenho se refere à representação através de linhas
(grafite, lápis, esferográfica). Dependendo do contexto, por vezes quase não há
distinção entre estes termos, pois é comum a utilização da palavra desenho
como se fosse a forma traduzida de design, por exemplo, desenho de produção
ou design de produção; desenho industrial ou design industrial20.
Visto que em grandes produções o design cinematográfico é composto
por atividades variadas comumente exercidas por uma equipe ampla,
normalmente não se nomeia um único indivíduo como sendo designer
cinematográfico, a não ser que, no âmbito de uma produção de baixo
orçamento, o profissional tenha desenvolvido sozinho todas as funções
relacionadas a cada etapa do processo de concepção visual. Para tanto já
existem nomenclaturas específicas tais como desenhista de produção, diretor
de arte, desenhista de conceito etc., onde cada qual exerce uma função
20 -" verb" to invent and prepare a plan of (something) before it is built or made: A famous
architect designed this building (projetar) -" noun"; 1 a sketch or plan produced before something is
made: a design for a dress. (desenho); 2 style; the way in which something has been made or put together.
It is very modern in design, I don't like the design of that building (design); 3 a pattern etc. the curtains
have a flower design on them. (padrão); 4 a plan formed in the mind (an) intention: our holidays
coincided by design and not by accident (propósito). PASSWORD K Dictionaries, 2001.
22
complementar à outra. Há casos em que o próprio diretor executa os primeiros
esboços que servirão de referência para que o departamento de arte possa
desenvolver e aperfeiçoar as sugestões de concepção visual, nem por isso eles
aparecem nos créditos como “designers cinematográficos” mesmo tendo
exercido uma pequena etapa dessa função. Exemplo disso são uns dos
esboços realizados por diretores como Alfred Hitchcock e Tim Burton para
indicar suas intenções que seriam posteriormente desenvolvidas pelos
desenhistas de conceito, para a pré produção dos filmes Um corpo que cai e O
estranho mundo de Jack, respectivamente:
A utilização do desenho como forma de comunicação entre o diretor e
sua equipe, além da linguagem verbal e escrita, era uma constante no
processo criativo de Frederico Fellini23 que costumava esboçar suas idéias
como no exemplo a seguir:
Mas assim como um texto escrito de maneira legível comunica idéias
com eficiência, também um desenho que possua clareza de informações supre
tais necessidades. Daí a relevância de se utilizar, em adição, os serviços de um
desenhista profissional.
Há, no entanto, casos peculiares em que é possível estabelecer de forma direta não só o aspecto visual do filme no sentido de pré-produção, mas também o acabamento, enquadramento, fotografia, planejamento do movimento de câmera, composição e combinação entre elementos de cena, personagens e cenários: tal como um programador visual planeja e controla a execução de um projeto gráfico. Exemplo disso é a animação de recortes na qual o designer produz arquivos que correspondem ao projeto a ser animado. Nesse caso é possível desenhar, compor o posicionamento dos elementos de cena e fazer o planejamento da movimentação desses elementos ao longo das cenas. Ainda que tudo seja animado, editado e os efeitos aplicados por outro profissional, o trabalho de design cinematográfico pode ser feito por um único desenhista, mantendo características originais, concedendo-lhe o crédito de designer cinematográfico. Tal função é muito comum na produção de curtas, de vinhetas, de aberturas, de trailers e teasers em técnicas diversas.
Há, no entanto, casos peculiares em que é possível estabelecer de forma direta não só o aspecto visual do filme no sentido de pré-produção, mas também o acabamento, enquadramento, fotografia, planejamento do movimento de câmera, composição e combinação entre elementos de cena, personagens e cenários: tal como um programador visual planeja e controla a execução de um projeto gráfico. Exemplo disso é a animação de recortes na qual o designer produz arquivos que correspondem ao projeto a ser animado. Nesse caso é possível desenhar, compor o posicionamento dos elementos de cena e fazer o planejamento da movimentação desses elementos ao longo das cenas. Ainda que tudo seja animado, editado e os efeitos aplicados por outro profissional, o trabalho de design cinematográfico pode ser feito por um único desenhista, mantendo características originais, concedendo-lhe o crédito de designer cinematográfico. Tal função é muito comum na produção de curtas, de vinhetas, de aberturas, de trailers e teasers em técnicas diversas.
[DVD Teasers Trilogia do caos] ou [cdM – Teasers Trilogia do Caos]
21 Cf. ETTEDGUI, Production design & art direction, 1999, p. 14.
22 Cf. TOMPSON, Tim Burton’s Nightmare before Christmas: the film, the art, the vision, 1994, p. 18.
23 FELLINI, Federico; PETTIGREW, Damien. Eu sou um grande mentiroso, 1995.
2.1 O potencial de manipulação da imagem. 9
Uma “coisa” filmada não é a “coisa” em si mesma, é uma representação
daquela coisa. Atribui-se normalmente aos documentários a característica
intrínseca de representação da realidade no sentido de ser um meio de
reprodução dos contornos materiais concretos da realidade, de caráter
objetivo10. Quanto ao desenho animado, não há nada mais ficcional que criar
imagens a partir do “nada”, apenas a partir de uma referência. Daí, a facilidade
em associá-lo à ficção, considerando ser o seu referencial a pura imaginação,
de caráter subjetivo.
O registro da essência dos fatos (não o objeto em si, mas sua
significação) pode se dar tanto pelo cinema de animação quanto pelo
documentário e em ambos os casos, a autenticidade ou veracidade do
conteúdo apresentado pode ser questionado, independente de sua objetividade
ou subjetividade o que cria a necessidade de buscar informações exteriores ao
filme.
Em cinema, a escolha de quando e como o objeto será filmado é uma
questão de ponto de vista. Sob este aspecto, o cinema é mais uma forma de
expressão que um meio de reprodução. Técnicas de montagem permitem o
controle da imagem a ser exibida e, por sua vez, a manipulação emocional da
realidade. Por mais que a imagem comprove que havia algo em frente à
câmera no momento da exposição, a escolha do ângulo, enquadramento,
iluminação etc., representam um ponto de vista específico dentre vários outros
9 Texto produzido a partir da disciplina do curso de Mestrado em Artes Visuais/UFMG “O cinema de
animação e o documentário na experiência do National Film Board do Canadá” ministrada pelo Prof. Dr.
Heitor Capuzzo Filho, em setembro de 2004.
10 Cf. TADDEI, Leitura estrutural do filme, 1981, p. 16-25
possíveis. A própria composição em seqüência do conjunto dessas imagens,
pode transmitir idéias opostas, de acordo com a maneira como elas se
organizam. É possível extrair do mesmo conteúdo significações pejorativas ou
positivistas, dependendo do contexto em que se insere na narrativa tal
conteúdo.
A ilusão de movimento no cinema de animação, mais do que reproduzido,
precisa ser sinteticamente inventado frame a frame. Num sentido radical, as
imagens live-action também são estruturadas na película através da seqüência
de fotogramas, por isso, quando alguns frames são retirados, a imagem
reproduzida deixa de coincidir com sua referência material.
Se a reprodução pura e simples não garante nenhuma autenticidade
histórica, nesta perspectiva, a reprodução torna-se um meio de representação,
não da coisa em si mesma, mas da idéia ou essência da coisa, segundo o
olhar do autor. A imagem da “realidade” pode ser forjada, sem por isso estar
longe de seu significado essencial. Exemplo: Tendo por objetivo filmar o
cotidiano dos esquimós (sem restringir um grupo ou individuo específicos),
pode-se pedir a um deles que “finja” estar pescando e depois filmá-lo já com
sua presa em mãos. Este é um recurso de registro da realidade. Seria mais
complexo obter o controle no momento exato em que o esquimó conseguiria
capturar sua presa. Embora tudo tenha sido encenado, a representação de
uma faceta da vida dos esquimós com possibilidades de leitura poética, não foi
deixada de lado. Do mesmo modo, quando a animação se torna um meio de
reprodução sintética da realidade, tendo-a como referência, ela pode se manter
fiel à idéia de uma forma poética (a poética evidencia a presença de um autor
por trás da montagem). O mesmo episódio da vida dos esquimós poderia ser
representado através do cinema de animação. O que estaria sendo
reproduzido seria uma faceta da vida dos esquimós e não da vida (retrato fiel)
de um determinado esquimó ou grupo específico de esquimós. Daí o caráter
ilustrativo que ambas as formas de representação adquirem.
Alguns filmes documentários podem apresentar certos pontos em comum,
tais como, conteúdo poético e caráter ilustrativo11, ou seja, a representação
(não reprodução) de uma referência real através de imagens cujo conteúdo
pode ser manipulado emocionalmente tanto através da montagem e
encenação, quanto através da animação. Exemplificando, podemos citar o
desenho animado feito pelos estúdios Walt Disney, sob a encomenda do
exército americano12. O filme inicia contando a história da aviação até chegar
num ponto em que, através de gráficos, setas e mapas, sintetiza a idéia das
estratégias de guerra que deveriam ser usadas contra a Alemanha Nazista em
função de sua localização geográfica privilegiada: Hitler tinha a vantagem de
repor rapidamente seu pelotão de guerra em curtas distâncias e por terra. Esse
desenho animado apresenta de forma didática as vantagens do ataque aéreo
efetuado pelas forças armadas americanas sempre usando uma estética
atraente e positivista para elevar o moral e a confiança na vitória contra as
forças do Eixo.
Nota-se que um dos fatores que abalam a crença na autenticidade do
conteúdo apresentado cinematograficamente, é a artificialidade presente na
11 : esclarecedor, elucidativo; Ilustração: ato ou efeito de ilustrar (explicar); conjunto de
conhecimentos; saber [...]. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Obs.: Ainda há casos de
discrepância entre ilustração didática e literária. A estética da ilustração literária e a linguagem da
ilustração didática se aproximam muito do cinema de animação tanto clássico como experimental.
Questões mercadológicas editoriais restringem o uso do termo quando para fins de análise estética e
conceitual.
12 Conforme animação exibida e comentada por CAPUZZO. Cf. nota 6.
atuação frente às câmeras. Embora seja possível simular a ‘realidade’, o
contrário também ocorre. Crê-se na síntese de determinado assunto pela
técnica ilustrativa empregada em sua apresentação, considerando-a
correspondente legítima da realidade13. Sendo assim filmar uma encenação
representativa de um episódio, ou fazê-lo através da animação abre caminho
para formas diferentes de se fazer a mesma coisa: manipular o significado da
imagem aproveitando-se deste paradoxo comunicacional entre imagem
objetiva/subjetiva, referencial/ficcional.
Um aspecto preocupante que tanto o documentário quanto o cinema de ficção possuem, é o potencial de manipulação sutil da imagem de maneira negativa. Do ponto de vista da produção, é possível fazer com que algo terrível pareça normal aos olhos ingênuos de um determinado público alvo. Também é possível destruir valores éticos e humanistas deturpando-lhes o significado. O caráter ambíguo da imagem cria duas possibilidades no cinema: ajudar a destruir ou salvaguardar um conceito, independente do fato de o conceito ser bom ou ruim. Sempre houve quem se aproveitasse disso através do simbolismo negativo, fazendo uso de imagens que já carregam em si significados polêmicos. Ou da banalização do significado ao utilizar imagens consideras oficiais ou sagradas de forma debochada.
Nos anos 1930 e 1940, a Alemanha nazista utilizou amplamente do cinema como meio de propaganda e de manipulação de massas; e chegou a fazer os primeiros testes para utilizar o meio de comunicação televisivo em rede nacional, prevendo seu longo alcance em prol de seus interesses
13 Observação baseada na palestra “Documentário: subjetividade versus objetividade” ofertada pela pós- graduação do departamento de comunicação social da FAFICH/UFMG, ministrada pelo Prof. Dr. José Francisco Serafim, da faculdade de comunicação da UFBA, no dia 05 de abril de 2004.
Um aspecto preocupante que tanto o documentário quanto o cinema de ficção possuem, é o potencial de manipulação sutil da imagem de maneira negativa. Do ponto de vista da produção, é possível fazer com que algo terrível pareça normal aos olhos ingênuos de um determinado público alvo. Também é possível destruir valores éticos e humanistas deturpando-lhes o significado. O caráter ambíguo da imagem cria duas possibilidades no cinema: ajudar a destruir ou salvaguardar um conceito, independente do fato de o conceito ser bom ou ruim. Sempre houve quem se aproveitasse disso através do simbolismo negativo, fazendo uso de imagens que já carregam em si significados polêmicos. Ou da banalização do significado ao utilizar imagens consideras oficiais ou sagradas de forma debochada.
Nos anos 1930 e 1940, a Alemanha nazista utilizou amplamente do cinema como meio de propaganda e de manipulação de massas; e chegou a fazer os primeiros testes para utilizar o meio de comunicação televisivo em rede nacional, prevendo seu longo alcance em prol de seus interesses
13 Observação baseada na palestra “Documentário: subjetividade versus objetividade” ofertada pela pós- graduação do departamento de comunicação social da FAFICH/UFMG, ministrada pelo Prof. Dr. José Francisco Serafim, da faculdade de comunicação da UFBA, no dia 05 de abril de 2004.
propagandistas. Durante a Segunda Guerra, após o ataque a Pearl Harbour,
que retirou os EUA de sua política isolacionista de não envolvimento na
conflagração européia, tornada mundial, não poupando as Américas, o cinema
norte-americano foi chamado pelo governo a colaborar no esforço de guerra. O
exército contratou os melhores profissionais do cinema para participarem da
guerra de propaganda contra o Eixo, encomendando-lhes filmes e desenhos
animados que transmitissem a idéia de que era preciso revidar ao ataque e de
que a “guerra é um mal necessário”; os animadores deveriam criar uma
imagem pejorativa e debochada dos inimigos a fim de elevar a moral dos
convocados a lutar no front e convencer a opinião pública nacional de que a
vitória seria mais fácil do que se imaginava. Era necessário deter Hitler e
impedir o domínio nazista do mundo; contudo, o conteúdo dessas propagandas
animadas vem sendo questionada, fora do contexto da guerra, enquanto
política de manipulação de massas.
Os propagandistas nazistas e, em reação, também os propagandistas antinazistas basearam seu imaginário em estigmas que perduram até hoje causando prejuízo à vida individual e coletiva. Tanto nos filmes nazistas, quanto nos filmes antinazistas, os soldados eram representados com glamour, como heróis de guerra premiados com fama, dinheiro e mulheres, quando na realidade poucos retornavam inteiros e com vida das frentes de batalha.
A coletânea de curtas-metragens Cartoon Scandals14, que inclui desenhos produzidos e exibidos nas décadas de 1930 e 1940, atualmente banidos da tv, mostravam os ataques terroristas de Superman15 ao exército
14 Cartoon Scandals, banned from TV: A study of violence, racism, sex, and war in cartoons. Compiled by Sandy Oliveri, 1987.
15 Superman: ́Eleventh Hour ́ (1942, Dan Gordon)
http://www.dailymotion.com/video/xe59cz_superman-original-cartoon-the-eleve_creation#.UM-Mr3Pjku4
Os propagandistas nazistas e, em reação, também os propagandistas antinazistas basearam seu imaginário em estigmas que perduram até hoje causando prejuízo à vida individual e coletiva. Tanto nos filmes nazistas, quanto nos filmes antinazistas, os soldados eram representados com glamour, como heróis de guerra premiados com fama, dinheiro e mulheres, quando na realidade poucos retornavam inteiros e com vida das frentes de batalha.
A coletânea de curtas-metragens Cartoon Scandals14, que inclui desenhos produzidos e exibidos nas décadas de 1930 e 1940, atualmente banidos da tv, mostravam os ataques terroristas de Superman15 ao exército
14 Cartoon Scandals, banned from TV: A study of violence, racism, sex, and war in cartoons. Compiled by Sandy Oliveri, 1987.
15 Superman: ́Eleventh Hour ́ (1942, Dan Gordon)
http://www.dailymotion.com/video/xe59cz_superman-original-cartoon-the-eleve_creation#.UM-Mr3Pjku4
japonês; cenas de violência em desenhos aparentemente inofensivos;
japoneses16 e negros sendo retratados de forma depreciativa17, disseminando
preconceitos atualmente observados no comportamento social de certos
grupos favoráveis a segregação. É, portanto, necessário refletir sobre esses
aspectos da manipulação da imagem durante o processo de concepção da
mesma a fim de não perpetuar inadvertidamente pensamentos
preconceituosos, inconseqüentes.
Saber fazer uma leitura crítica (e não ingênua) e saber ensinar a ler o filme18 contribui para que tenhamos consciência da amplitude e poder de influência que a imagem em movimento possui. Tanto do ponto de vista de quem assiste quanto do ponto de vista de quem produz cinema.
Embora esteja intimamente relacionado com as questões de forma e conteúdo, o departamento de arte não tem a pretensão de se considerar o único responsável pelo sucesso do filme, pois por estar a serviço da linguagem cinematográfica, há diversos departamentos envolvidos, sob a supervisão do diretor. O que se cria visualmente será editado e outros elementos serão adicionados de forma que o resultado final seja a conjugação de tais elementos, em movimento.
Saber fazer uma leitura crítica (e não ingênua) e saber ensinar a ler o filme18 contribui para que tenhamos consciência da amplitude e poder de influência que a imagem em movimento possui. Tanto do ponto de vista de quem assiste quanto do ponto de vista de quem produz cinema.
Embora esteja intimamente relacionado com as questões de forma e conteúdo, o departamento de arte não tem a pretensão de se considerar o único responsável pelo sucesso do filme, pois por estar a serviço da linguagem cinematográfica, há diversos departamentos envolvidos, sob a supervisão do diretor. O que se cria visualmente será editado e outros elementos serão adicionados de forma que o resultado final seja a conjugação de tais elementos, em movimento.
20
16 ́Tokio Jokio ́ (1943, Norm McCable)
17 ́Scrub me Mama with a Boogie Beat ́ (1941, Walter Lantz); All This and Rabbit Stew (1941, Tex Avery).
18 ECO, Sobre os espelhos e outros ensaios, 1989.
17 ́Scrub me Mama with a Boogie Beat ́ (1941, Walter Lantz); All This and Rabbit Stew (1941, Tex Avery).
18 ECO, Sobre os espelhos e outros ensaios, 1989.
2
Concepção visual: considerações sobre forma e conteúdo
“A imagem constitui o elemento de base da linguagem cinematográfica”. (A linguagem cinematográfica, Marcel Martin)4.
Como transformar em imagem visível algo que habita o mundo das idéias, da imaginação? Que meios podem ser utilizados para simular um mundo que já não existe mais ou que nunca existiu?
O uso que se faz atualmente da palavra design5 subentende não só o desenho ou planejamento, mas também o conceito presente no produto final. É comum observarmos nos meios de comunicação, sobretudo na propaganda, expressões tais como “este automóvel possui um design avançado, aerodinâmico”, ou “móveis feitos com um design moderno e arrojado para combinarem com o seu estilo”. Esta palavra é também tradicionalmente usada na indústria e no comércio para se referir a certas profissões, tais como, designer de jóias, designer gráfico, webdesigner, e assim por diante. Mais do que o desenho de projeto em si, a palavra design traz embutido no seu significado um conceito que pode ser percebido no produto resultante. Podemos dar, como um exemplo disso, algo bem próximo de nós: a cadeira. O designer de produtos projeta uma cadeira através de um desenho, levando em consideração questões de conforto, segurança, funcionalidade, beleza,
4 Cf. MARTIN, 1990, p.21
5, s. m. (termo inglês) Desenho industrial; criação de um projeto, programação visual. BUENO,
1996, p.202.
Concepção visual: considerações sobre forma e conteúdo
“A imagem constitui o elemento de base da linguagem cinematográfica”. (A linguagem cinematográfica, Marcel Martin)4.
Como transformar em imagem visível algo que habita o mundo das idéias, da imaginação? Que meios podem ser utilizados para simular um mundo que já não existe mais ou que nunca existiu?
O uso que se faz atualmente da palavra design5 subentende não só o desenho ou planejamento, mas também o conceito presente no produto final. É comum observarmos nos meios de comunicação, sobretudo na propaganda, expressões tais como “este automóvel possui um design avançado, aerodinâmico”, ou “móveis feitos com um design moderno e arrojado para combinarem com o seu estilo”. Esta palavra é também tradicionalmente usada na indústria e no comércio para se referir a certas profissões, tais como, designer de jóias, designer gráfico, webdesigner, e assim por diante. Mais do que o desenho de projeto em si, a palavra design traz embutido no seu significado um conceito que pode ser percebido no produto resultante. Podemos dar, como um exemplo disso, algo bem próximo de nós: a cadeira. O designer de produtos projeta uma cadeira através de um desenho, levando em consideração questões de conforto, segurança, funcionalidade, beleza,
4 Cf. MARTIN, 1990, p.21
5
viabilidade de produção etc. De forma que, após ter sido fabricada, a cadeira
agrade ao cliente por cumprir seu papel: o de comportar o peso e as
preferências de quem nela se senta e o de não desabar. Portanto o design de
produto irá designar a concepção visual da cadeira acrescida de elementos
estéticos e funcionais. Ela tem que ser fisicamente possível de ser construída,
e construída para funcionar e perdurar na sua função.
Mas, o que acontece quando a cadeira é destinada a fazer parte do cenário de um filme? Quais questões deverão ser levadas em consideração durante o processo de concepção visual de uma cadeira que não foi encomendada para a indústria de móveis e sim para a indústria cinematográfica? Cidades cenográficas muitas vezes são compostas apenas por fachadas. O termo cenográfico às vezes é empregado no sentido de faz de conta. Uma cadeira projetada para um universo fantástico não terá necessariamente a obrigação de ser possível no plano físico. Nem tampouco a necessidade de ser confortável dependendo de sua função dentro da narrativa. Se a intenção é ressaltar justamente um estado de desconforto, uma cadeira de aspecto rígido e tortuoso pode vir a ser uma excelente alternativa. Nos filmes, uma cadeira pode passar a ter significações e utilizações bem diversas do habitual. Os personagens poderão usá-la para quebrar vidraças ou quebrá- la nas costas de alguém; para compor com ela a coreografia de uma dança; podem usá-la para voar ou viajar no tempo; e assim por diante.
Uma curiosa consideração: por quê as cadeiras elétricas que aparecem em filmes policiais ou até mesmo de terror, não são estofadas assim como poltronas revestidas por veludo vermelho e adornos dourados? Seria uma sarcástica demonstração de piedade para com alguém prestes a morrer
Mas, o que acontece quando a cadeira é destinada a fazer parte do cenário de um filme? Quais questões deverão ser levadas em consideração durante o processo de concepção visual de uma cadeira que não foi encomendada para a indústria de móveis e sim para a indústria cinematográfica? Cidades cenográficas muitas vezes são compostas apenas por fachadas. O termo cenográfico às vezes é empregado no sentido de faz de conta. Uma cadeira projetada para um universo fantástico não terá necessariamente a obrigação de ser possível no plano físico. Nem tampouco a necessidade de ser confortável dependendo de sua função dentro da narrativa. Se a intenção é ressaltar justamente um estado de desconforto, uma cadeira de aspecto rígido e tortuoso pode vir a ser uma excelente alternativa. Nos filmes, uma cadeira pode passar a ter significações e utilizações bem diversas do habitual. Os personagens poderão usá-la para quebrar vidraças ou quebrá- la nas costas de alguém; para compor com ela a coreografia de uma dança; podem usá-la para voar ou viajar no tempo; e assim por diante.
Uma curiosa consideração: por quê as cadeiras elétricas que aparecem em filmes policiais ou até mesmo de terror, não são estofadas assim como poltronas revestidas por veludo vermelho e adornos dourados? Seria uma sarcástica demonstração de piedade para com alguém prestes a morrer
eletrocutado? Ou este simples detalhe mudaria completamente o tom do filme
para humor negro? Estofamentos trazem em sua aparência a idéia de conforto
ou luxo, algo distante do conceito de pena de morte.
Portanto, salvo os casos em que a intenção é causar estranheza, o tratamento visual dado ao objeto deve interagir com os outros elementos do filme, bem como com a finalidade da narrativa; caso contrário, ele irá destoar do restante a ponto de ser considerado erro. Tudo dependerá das restrições feitas pela história ou pelo roteiro, definindo em quais circunstâncias será mais bem utilizada determinada forma de representação dos elementos que irão compor o visual do filme.
Para o filme X-MEN (Brian Singer, 2000) foram projetados dois modelos de cadeira de rodas. Uma motorizada na qual o requintado personagem Prof. Xavier fica sentado durante quase toda a história e cujo encosto sofreu modificações durante o processo de produção em função dos enquadramentos, a fim de não ocultar a cabeça do personagem nos casos em que ele aparece de costas. A outra, em acrílico, para a cena da visita que o Prof. Xavier faz a Magneto em sua prisão de plástico onde não podia haver metal de espécie alguma (para isolar os poderes magnéticos do vilão). Curiosamente, o figurino do personagem do Professor Xavier também teve de ser adaptado. Seus ternos e colete eram bem mais longos do que o normal para não terem a aparência de amarrotados enquanto ele estivesse sentado. Isso só era percebido nos intervalos de filmagem quando o ator Patrick Stewart se levantava e caminhava pelo set com um terno não muito elegante6.
[cdC: CONCEPÇÕES/Xmen2/figurino/xmen388.jpg a xmen400.jpg]
Portanto, salvo os casos em que a intenção é causar estranheza, o tratamento visual dado ao objeto deve interagir com os outros elementos do filme, bem como com a finalidade da narrativa; caso contrário, ele irá destoar do restante a ponto de ser considerado erro. Tudo dependerá das restrições feitas pela história ou pelo roteiro, definindo em quais circunstâncias será mais bem utilizada determinada forma de representação dos elementos que irão compor o visual do filme.
Para o filme X-MEN (Brian Singer, 2000) foram projetados dois modelos de cadeira de rodas. Uma motorizada na qual o requintado personagem Prof. Xavier fica sentado durante quase toda a história e cujo encosto sofreu modificações durante o processo de produção em função dos enquadramentos, a fim de não ocultar a cabeça do personagem nos casos em que ele aparece de costas. A outra, em acrílico, para a cena da visita que o Prof. Xavier faz a Magneto em sua prisão de plástico onde não podia haver metal de espécie alguma (para isolar os poderes magnéticos do vilão). Curiosamente, o figurino do personagem do Professor Xavier também teve de ser adaptado. Seus ternos e colete eram bem mais longos do que o normal para não terem a aparência de amarrotados enquanto ele estivesse sentado. Isso só era percebido nos intervalos de filmagem quando o ator Patrick Stewart se levantava e caminhava pelo set com um terno não muito elegante6.
[cdC: CONCEPÇÕES/Xmen2/figurino/xmen388.jpg a xmen400.jpg]
6 Cf. Informações extras (making of) X-MEN 1.5, X-treme edition do filme original, 2 DVDs.
Em X-MEN 2 (Brian Singer, 2003) surge um terceiro modelo de cadeira de
rodas especialmente projetada para o personagem Jason, um mutante usado
como cobaia que fica em estado vegetativo. Restam-lhe apenas os poderes
telepáticos que são manipulados pelo vilão através de líquidos injetados em
sua espinha dorsal. Por isso a cadeira de rodas de Jason possui um aspecto
tenebroso, com cilindros e mangueiras conectadas ao pescoço. Devido a sua
aparência decadente, a sensação que se tem é que Jason, subjugado,
depende da cadeira não só para ser transportado, mas para ser mantido vivo e
sob controle. A discrepância entre os modelos de cadeiras projetadas segundo
o perfil dos personagens pode ser observada na cena em que Prof. Xavier e
Jason ficam frente a frente7.
[cdC: CONCEPÇÕES/XMEN/cadeira/jason063.jpg a jason067.jpg]
Com base nesses exemplos, conclui-se que há mais coisas envolvidas no processo de definição de um conceito e sua imagem resultante do que apenas a estética do filme. A escolha das imagens, seu aspecto e a maneira como são apresentadas está diretamente relacionado ao conceito literário do filme, acentuando-lhe ou atenuando-lhe características. Isto significa que, dentro da narrativa ficcional, é possível deturpar as imagens e seus significados convencionais no intuito de realçar uma idéia através da ironia, criando elementos inusitados com os quais não nos deparamos no cotidiano. A utilização desse recurso pode ser facilmente percebida num filme como Maus Hábitos (Pedro Almodóvar, 1983), no qual aparecem freiras vestidas com os típicos hábitos de monjas mas fazendo uso de ácido, cocaína e drogas
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Com base nesses exemplos, conclui-se que há mais coisas envolvidas no processo de definição de um conceito e sua imagem resultante do que apenas a estética do filme. A escolha das imagens, seu aspecto e a maneira como são apresentadas está diretamente relacionado ao conceito literário do filme, acentuando-lhe ou atenuando-lhe características. Isto significa que, dentro da narrativa ficcional, é possível deturpar as imagens e seus significados convencionais no intuito de realçar uma idéia através da ironia, criando elementos inusitados com os quais não nos deparamos no cotidiano. A utilização desse recurso pode ser facilmente percebida num filme como Maus Hábitos (Pedro Almodóvar, 1983), no qual aparecem freiras vestidas com os típicos hábitos de monjas mas fazendo uso de ácido, cocaína e drogas
7 Cf. DVD X-MEN 2, edição especial, 2 DVDs.
8 Observação feita com base na disciplina do curso de Mestrado em Artes Visuais/UFMG “A narrativa
cinematográfica na obra de Billy Wilder”, ministrada pela Profa. Dra. Ana Lúcia Andrade em outubro de
2004.
injetáveis. Uma das freiras cria um tigre no quintal do convento. A madre
superiora tem a parede de sua sala coberta por fotos de mulheres “pecadoras”,
num ambiente misto de sagrado e profano.
[cdM – Trechos Selecionados/EntreTinieblas.mpeg]
Há que se acrescentar, porém, a seguinte observação: um filme visualmente bem feito não é necessariamente um bom filme, pois se espera que forma e conteúdo estejam em harmonia8. Um filme mal feito pode comprometer o enredo dificultando a compreensão da história. O cinema de ficção possui ainda um potencial de manipulação da imagem que pode se tornar um meio perigoso para a propagação de mensagens subliminares.
[cdM – Trechos Selecionados/EntreTinieblas.mpeg]
Há que se acrescentar, porém, a seguinte observação: um filme visualmente bem feito não é necessariamente um bom filme, pois se espera que forma e conteúdo estejam em harmonia8. Um filme mal feito pode comprometer o enredo dificultando a compreensão da história. O cinema de ficção possui ainda um potencial de manipulação da imagem que pode se tornar um meio perigoso para a propagação de mensagens subliminares.
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